Em breve fará dez anos que esse caso ficou (um pouco) famoso. Tantas coisas aconteceram desde então, inclusive no Irã, que a memória de Reyhaneh Jabbari e sua terrível história se perderam.
E agora ela está lá, imediatamente. Ela está lá graças à sua voz, gravada ao telefone, ela está lá graças às suas palavras, ditas por outro, ela está lá graças às imagens de si mesma, avant.
Imagens dela em vídeo recordações de momentos entre sua família, quando ela era a mais velha de três irmãs criadas em Teerã por um casal de pais amorosos, e determinada a não prender suas filhas nas restrições que a sociedade e a lei impõem, no Irã, em humanos do sexo feminino.
Culpado por não se permitir ser estuprado
Até o dia em 2007, quando um homem atrai a jovem para um apartamento com o pretexto de lhe oferecer um emprego e tenta estuprá-la. Uma facada o salva. Mas o cara em questão morre e descobre-se que ele ocupou um cargo importante nos serviços de segurança.
Contra uma mulher que não se deixou fazer, contra uma pessoa que não se submeteu a um representante de sua ordem, a vingança do Estado será terrível. Pode ser um cenário fictício, é a crônica documentada de um caso tragicamente real.
Escolhida pela família Jabbari, cuja maioria está no exílio, a jovem diretora alemã Steffi Niederzoll recebeu de suas inúmeras gravações, imagens e sons, além de documentos, textos, cartas, fotos, acumulados ao longo dos sete anos que se seguiram à prisão de Reyhaneh.
O filme é uma montagem que inclui também outras imagens de arquivo, tomadas feitas clandestinamente no Irã hoje, trechos de programas de televisão, depoimentos diante da câmera, uma maquete de uma das prisões onde a jovem esteve presa. fêmea.
Shole Pakravan, mãe de Reyhaneh, em frente à maquete de celas parecidas com aquela onde sua filha foi encarcerada. | Nour Filmes
Essa heterogeneidade de materiais visuais, e também sonoros – onde a verdadeira voz da prisioneira se alterna com a da atriz Zar Amir Ibrahimique também teve que lidar com os tribunais de seu país, produziu um efeito poderoso.
Sete invernos em Teerã é de facto um intenso suspense, uma crónica do desenrolar de um caso que suscita múltiplos ecos, não só sobre o Irão, e um constante convite a questionar o que vemos e o que ouvimos.
Várias molas
Questionar não significa necessariamente duvidar, mas tentar compreender as condições de existência dessas imagens, que se referem tanto às condições de vida dos que são mostrados no filme quanto às condições de produção de informações e emoções.
Esta ansiedade do olhar é tanto mais fecunda quanto ecoa os numerosos filmes iranianos que evocam diferentes aspectos próximos do caso de Reyhaneh Jabbari, ao renovarem as múltiplas modalidades da mise en abyme de que esta cinematografia tanto faz uso.
Mas também se trata de outra coisa: uma desordem na relação com a lei, com a tomada de decisões, com o lugar relativo do coletivo (uma sentença judicial) e do privado (a lei da retaliação).
Sete invernos em Teerã reformula de forma terrivelmente concreta o conflito que emana do mecanismo jurídico decorrente da lei corânica, e que permite à “justiça” descartar sobre a família da “vítima” a passagem ao acto fatal: a execução ou não da pena de morte que esta mesma “justiça” se pronuncia com uma facilidade aterradora.
O acusado caluniado pela mídia oficial iraniana. | Nour Filmes
Entre muitos outros, Os Filhos de Belle Ville d’Asghar Farhadi ou Yalda, a Noite do Perdão por Massoud Bakhshi mobilizou esta tão dramática primavera de olho por olho.
Não só a intensidade da situação é obviamente desproporcional quando se trata de uma pessoa real como, muito melhor do que as ficções, o documentário de Steffi Niederzoll consegue tornar sensível o funcionamento das múltiplas molas que estão ativas em torno de tal caso, desde o tormento íntimo dos envolvidos aos mecanismos do aparelho judiciário e policial, à mídia, às mobilizações nacionais e internacionais.
Uma luta implacável
Dando um lugar importante à luta implacável da mãe de Reyhaneh para tentar salvar sua filha a todo custo, Sete invernos em Teerã também dá lugar à determinação da jovem em não se submeter à chantagem das autoridades e da família de seu agressor.
A composição complexa e fluida do filme permite evocar também as condições de detenção, e a forma como a prisioneira, que aparece por sua vez ou ao mesmo tempo jovem enérgica, adolescente aterrorizada e heroína antiga, foi capaz de contribuir para agem com e para seus companheiros de prisão, frequentemente vítimas de tratamento atroz por parte de suas próprias famílias antes de serem presos muitas vezes por rebeldia.
Humilhada, torturada, chicoteada, caluniada na mídia oficial, Reyhaneh Jabbari aparece como uma figura de martírio, mas nem ela nem o filme a confinam apenas a essa postura.
Uma imagem roubada por seus familiares do jovem preso graças a um celular escondido. | Nour Filmes
Além da personalidade de Reyhaneh, participam da narração a de sua mãe, de seu pai e, de certa forma, do filho do estuprador que tem em suas mãos o destino da condenada. As imagens roubadas com um celular onde a filmagem é proibida, como as explicações matizadas e argumentadas dos pais, que não concordam em tudo, a mãe na Alemanha e o pai ainda no Irã, fazem a comovente riqueza de Sete invernos em Teerã.
Obviamente feito antes do nascimento do movimento Mulheres, Vida, Liberdade, o filme, no entanto, oferece uma narrativa particularmente poderosa das condições em que esse movimento se desenvolveu. Também permite que Reyhaneh Jabbari não seja esquecido no final.
As resenhas de filmes de Jean-Michel Frodon podem ser encontradas no espetáculo “Afinidades Culturais” por Tewfik Hakem, domingos das 15h às 16h no France Culture.
Source: Slate.fr by www.slate.fr.
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